(Reserva 2011) Diana Mira: «Andanças é presença obrigatória nas agendas culturais»

No éMundial 2012 haverá uma mesa redonda sobre festivais da Lusofonia. Um dos festivais representados será o português Andanças. Recuperamos a entrevista que lhe realizáramos com motivo do éMundial 2011 a Diana Mira, uma das organizadoras.

Precisamente entrevistámos Diana Mira, da Associação PédeXumbo, para conhecer mais acerca do Festival Andanças, evento que anualmente decorre na freguesia de Carvalhais, no município de São Pedro do Sul (distrito de Viseu, região Centro).

P: No éMundial vamos apresentar o Festival Andanças, um festival

de música e dança tradicional. Como e quando surgiu a iniciativa? Quais foram os objetivos fundacionais?

R: O festival existe desde 1996, acontece anualmente. A ideia inicial era sobretudo criar um espaço onde qualquer pessoa pudesse aprender a dançar danças de raiz tradicional, algo que na altura era impossível em Portugal, excetuando dentro do âmbito dos grupos folclóricos.

P: A que público vai dirigido?

R: O Andanças dirige-se a qualquer pessoa – essa é, aliás, uma das suas características. No ano passado por exemplo houve cerca de 1000 crianças a participar —entre colónias de ferias e crianças que vêm com família—; há uma imensidão de músicos de todas as áreas —para além dos que são programados oficialmente—. A população local participa em peso —trata-se do evento de maior dimensão do concelho de São Pedro do Sul, e há uma camada mais jovem (18 – 35 anos) que poderíamos dizer que predomina—, desde pessoas que praticam atividades de dança regularmente até simples curiosos atraídos pelas caraterísticas de festival, enquanto evento de massas.

É o único festival de danças tradicionais na Europa que marca a vida cultural do país de forma tão presente.

P: Qual é o ‘conceito’ do festival?

R: Trata-se antes de mais de um evento cultural —promovendo aspetos da cultura imaterial atualmente reconhecidas como parte enriquecedora do património—, promovendo a cultura participativa. Mas o conceito abrange de forma intrínseca duas outras questões que foram motor de sucesso: o voluntariado e a sustentabilidade. Assim, qualquer pessoa enquanto público é também coautor do projeto porque é convidado a dançar —e sem os participantes dançarem não haveria festival—.

Mas o público é também responsabilizado por atitudes de sustentabilidade (como a utilização pessoal de uma caneca, tendo o festival eliminado todos os plásticos descartáveis no Festival). O voluntariado está presente nas várias áreas do Andanças: desde os 800 artistas que participam, às equipas de Primeiros Socorros (constituída por médicos e enfermeiros), até aos responsáveis pela implementação de medidas de sustentabilidade (eco-designers e engenheiros do ambiente), entre muitos outros.

P: É um encontro só lúdico ou também tem aspetos formativos?

R: O Andanças conjuga precisamente as diversas vertentes, lúdica e formativa. Aliás, pensamos que essa é a melhor forma de promover o espaço lúdico: quando este tem implícito uma componente formativa, especialmente de formação pessoal: com o exercício de aprender a dar a mão, a trabalhar em grupo, a olhar os outros nos olhos, aprende-se o trabalho em grupo e o respeito pelo outro.

P: O festival tem já uma longa trajetória, pois este ano cumpre dezasseis edições. Qual é a valorização que se tem? Atingiu os objetivos?

R: Este ano será a 16ª edição do Festival. É um festival consolidado, sem dúvida. É o único festival de danças tradicionais na Europa que marca a vida cultural do país de forma tão presente. Estamos na segunda geração de pessoas que atravessa o Festival. É presença obrigatória nas agendas culturais ao lado de outros festivais de verão de grande dimensão, o que nos orgulha. De facto, há 15 anos, as danças populares portuguesas estavam restritas a um meio cultural limitado, e associadas a um meio conservador e rural. Atualmente, alguns projetos dedicados ao baile e danças tradicionais fazem parte das agendas culturais dos teatros mais conceituados —Centro Cultural de Belém, Casa da Música—, sendo reconhecidos pela sua qualidade e inovação artística.

P: O que mudou na conceção do evento neste tempo? O que reclama o público?

R: A dimensão que atingiu ultrapassou em larga escala qualquer perspetiva que pudéssemos ter. Trata-se sem dúvida de um evento de massas atualmente —cerca de 22.000 entradas em 2010—. O público que há mais anos frequenta o Festival reclama por mais espaço para dançar. Algumas oficinas de dança estão cheias, mas continua a haver espaço para pequenas oficinas com lotação máxima de 15 pessoas, passeios diários na Serra para grupos de 50 pessoas.

Em quase todas as edições houve grupos e monitores galegos. Muito pela proximidade geográfica, mas sobretudo por uma série de cumplicidades.

P: O festival é organizado pela associação Pédexumbo. Fala-nos um pouco acerca dela.

R: A Asssociação PédeXumbo tem sede em Évora, tendo uma equipa profissional de 8 pessoas a trabalhar a tempo inteiro. Dinamiza diversas áreas de atividade: um setor de edições; um setor de formação de formadores —com algumas ações acreditadas formalmente—; um espaço próprio com programação regular, em Évora (Espaço Celeiros); organização de diversos festivais —Entrudanças, encontro de tocadores Tocar de Ouvido, entre outros—; um setor de investigação etno-coreológica —em colaboração com institutos académicos—; um setor inovador de criação artística.

No setor de edições, chamamos a atenção para a edição de um livro/CD para crianças, que tem tido imenso sucesso, intitulado “Zampadanças”, editado em português + galego + castelhano, com coordenação de Mercedes Prieto (uma colaboradora galega).

P: Precisamente, no vosso festival tem havido também presença galega…

R: Em quase todas as edições, arriscaria a dizer em todas!, houve grupos e monitores galegos. Muito pela proximidade geográfica, mas sobretudo por uma série de cumplicidades a nível pessoal com músicos e monitores de dança com visões alargadas sobre a música e dança.

Em relação à programação, gostaria de chamar a atenção para o facto de no Andanças se poder aprender a dançar várias danças com professores que vivem as danças da sua comunidade, no seu quotidiano. As Valsas Mandadas da Serra de Grândola, por exemplo, ou os cantares polifónicos da Terra de Arões (Aveiro). Músicos e professores de dança que não estão no circuito profissional dos Festivais estão lado a lado a ensinar.

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